quarta-feira, 30 de abril de 2008

Resenha 2

Resenha 2
Roubando pra saldar uma divida com a vida
Australiano cria uma história que promete agradar jovens e adultos
O jovem australiano Markus Zusak une em "A menina que roubava livros" (The book thief, tradução de Vera Ribeiro, Intrínseca, 500 pp, R$39,90), a literatura infanto-juvenil, no melhor estilo Harry Potter e a atual ficção adulta, lembrando ao mesmo tempo, o já citado Potter e "O Diário de Anne Frank". Um livro que explora com habilidade a miséria humana e celebra o poder da linguagem numa narrativa fascinante e uma linguagem inovadora.
O livro de Zusak conta as aventuras e desventuras de uma menina, uma vencedora, uma sobrevivente do Holocausto e seus encontros com a morte. Uma história reveladora, simbólica, divertida, engraçada, abstrata e metafórica, contada pela Morte, uma macabra narradora que o autor escolheu para dar um passeio às pequenas histórias que definem a grandiosidade do ser humano. Ambientada em 1939, na Alemanha nazista, no momento que a menina é abandonada por sua mãe, para não morrer em um campo de concentração, entregue a um casal alemão da cidadezinha de Molching, perto de Munique, onde sofre nas mãos de sua mãe, uma espécie de madrasta. Durante os anos de 1939 e 1943, por três vezes encontrou a morte e por três vezes a venceu.
Markus Zusak ganhou notoriedade a partir desse livro, com apenas 31 anos, figurou durante 43 semanas na lista de best sellers do jornal "The New York Times". Inspirado nas conversas que Mark ouvia de seus pais sobre a infância na Alemanha - a ascensão de Hitler, o fanatismo nazista e o Holocausto.
Lembrando a narrativa fictícia de Lemony Snickett, autor de Desventuras em série, porém com menos sagacidade, Zusak coloca a personificação da própria Morte no papel de narradora. Em uma linguagem inteligente, a "ceifadora de almas" constrói junto ao leitor uma relação de respeito e admiração, como uma storytelling – contadora de histórias – ela não se coloca com um mal irremediável, mas a gentil passagem para o fim da vida. E é com um aviso que ela começa sua história, "Eis um pequeno fato: você vai morrer", pesarosa narra a vida de uma sobrevivente, daquelas sobreviventes perpetuas, uma especialista em ser deixada para trás, uma menina que roubava livros de nome Liesel Meminger. Sobre sua história, a morte escreve pra o seu leitor "É uma dentre muitas que carrego cada qual extraordinária por si só. Cada qual uma tentativa – uma tentativa que é um salto gigantesco – de me provar que você e a sua existência humana valem a pena.".É possível sentir-se oprimido e impressionado em alguns momentos do romance, mas o impacto que ele causa é a sua própria força. Inovador na sua linguagem, o autor alterna a linearidade narrativa com antecipações de fatos da própria história.
A menina que roubava livros é um conto longo e envolvente, pontuado pelos comentários da narradora. Uma história audaciosa que com certeza se tornará um clássico da literatura mundial e ler-se-á admirando extensamente o cenário perfeito em que os livros se transformam em tesouros e que resistiram à tirania, ao medo e à morte.
Um dos melhores livros já publicados até agora, recomendado para todos os pais e indicado para todos os adolescentes e jovens, todos irão se surpreender com a menina Liessel.
Cadorno Telles

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